quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fuzil 7.62 apreendido no Alemão havia sido doado pela Marinha à PMERJ


Doado pela Marinha à Polícia Militar, o fuzil automático leve (FAL) 7,62 encontrado por agentes da Polinter no Complexo do Alemão, na semana passada, pertencia ao Batalhão de Choque (BPChoque) e foi perdido por um cabo durante patrulhamento. Essa pelo menos foi a conclusão do Inquérito Policial Militar instaurado para apurar o sumiço da arma, em setembro de 2009. Os responsáveis pelo IPM classificaram o fato como negligência, descartando má-fé ou corrupção por parte do PM, condenado apenas a ressarcir a corporação - que não informou o valor restituído.

Na época, o cabo foi preso em flagrante sob acusação de peculato culposo - quando o funcionário público, por negligência, imprudência ou imperícia, infringe o dever, permitindo outro se aproprie de qualquer bem público -, mas não foi exonerado. Atualmente, ele responde a Conselho de Disciplina e Inquérito na Corregedoria-Geral Unificada das Polícias, que pode resultar na sua expulsão.

Segundo a assessoria de imprensa da corporação, os responsáveis pelo IPM não conseguiram reunir provas de que o cabo desviou o fuzil. No mercado paralelo, um FAL pode ser negociado por até R$ 35 mil.

O cabo, que não teve o nome divulgado, alegou no IPM ter perdido o fuzil quando a patrulha do BPChoque estava parada no posto de abastecimento, na noite de 12 de setembro de 2009. Ele teria deixado a arma no interior do veículo e se afastado. Ao voltar notou o sumiço do FAL. Na mesma noite, outra arma de guerra, um fuzil M-16, também desapareceu no interior do 1 BPM (Estácio). Os dois batalhões funcionam no mesmo local, na Cidade Nova. Na ocasião, um sargento, responsável pelo setor de guarda de armas, também foi detido administrativamente.

Busca em quartel não achou as armas
O sargento teria abandonado o serviço durante à madrugada, quando o M-16 sumiu. Na época, foram realizadas buscas em armários e carros no 1º BPM e do BPChoque, mas as armas não foram localizadas. O policial também é alvo de investigação na Corregedoria-Geral Unificada das Polícias.

Ao ser recuperada por agentes da Polinter, a arma de guerra apresentava na coronha a inscrição "Trem Bala", pintada pelos bandidos, que nem sequer tiveram a cautela de raspar o número de série e a data - 14 de março de 2008 - em que a Marinha fez a doação à Polícia Militar. Na época, a corporação recebeu 500 fuzis semelhantes ao encontrado no Alemão. Desde a retomada da Vila Cruzeiro, no último dia 25, já foram apreendidas, pelo menos, 494 armas nos complexos do Alemão e da Penha, segundo o último balanço, divulgado ontem pela Polícia Civil. Dessas, 143 são fuzis e 58 são metralhadoras ou submetralhadoras. Foram encontradas ainda nas favelas 178 granadas, segundo a PM.

Em 2008, a notícia de que a Marinha doara os 500 fuzis à PM deixou setores da sociedade civil preocupados. Tudo porque em 1996, depois de uma doação à PM, também de 500 fuzis FAL, feita pelo Exército, parte acabou desviada, indo parar nas mãos de traficantes nos morros do Rio. O desvio foi constatado durante rastreamento feito por policiais civis em armas apreendidas na Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE).

Fabricados pela Imbel, os fuzis FAL calibre 7,62 foram entregues à PM por meio de um convênio entre os governos federal e estadual para combater o tráfico no Rio. Na época, o governo do Rio, através de sua Secretaria de Segurança, alegava estar em desvantagem em relação ao armamento usado pelos criminosos do Rio, principalmente traficantes.

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